A Seleção Nacional de futebol derrotou, nesta terça-feira, a Guiné-Bissau por duas bolas a uma, em encontro disputado no Estádio do Restelo, em Lisboa.
Foram muitos os que se deslocaram ao estádio para assistir à partida, mas não deixa de surpreender que houvesse mais bissau-guineenses do que cabo-verdianos na bancada, tendo em conta a dimensão da comunidade crioula residente em Lisboa que, dizem os números, ultrapassa por larga margem o número de bissau-guineenses.
Os que não quiseram perder a partida (dentre os quais se destaca um duo de indefectíveis que viajaram, imagine-se (!), desde a Holanda para apoiar a Seleção Nacional), foram bem equipados: cachecóis, bandeiras, camisolas, buzinas... tudo que tivesse a cor azul servia, enquanto do outro lado a festa dos "Djurtus" também era animada, eles que chegaram bem cedo para apoiar a renascida seleção da Guiné-Bissau.
Espetadores especiais da partida foram Marco Soares e Valter, que se encontram lesionados, Tom, médio ofensivo internacional por Cabo Verde, agora a representar o Anadia, da 2ª Divisão portuguesa, e João de Deus, o antigo selecionador nacional.
Lúcio Antunes escolheu o seguinte "onze" inicial: Fock, Gegê, Varela, Nando, Stopira, Toni, Rony, Odair, Babanco, Lito e Ryan.
Em campo, o desenho tático da turma nacional variava entre um 4-4-2 losango e um 4-1-3-2, dependesse do movimento defensivo ou ofensivo. Toni Varela era o trinco, jogando à frente dos centrais Nando e Varela. Odair e Roni, quando Cabo Verde defendia, funcionavam como médios-interiores direito e esquerdo, respetivamente, ficando Babanco no vértice ofensivo do losango. Quando Cabo Verde atacava, Odair e Roni encostavam-se às linhas e procuravam desequilíbrios, muitas vezes com a colaboração dos laterais, ficando em linha com Babanco. Já com Cabo Verde em vantagem, não raras vezes Roni aparecia mais perto de Toni Varela e Lito encostava à esquerda, resultando num temporário 4-1-4-1.
Quanto ao jogo em si, Cabo Verde entrou a todo o gás, fazendo-se valer do natural favoritismo para encostar o adversário às cordas. Lito, Ryan e Rony eram os jogadores em foco, antes de Babanco e Odair também contribuírem para a pressão crioula. O 1º golo resulta de uma excelente incursão de Stopira pela esquerda, aproveitando o espaço provocado pelas constantes movimentações de Lito, Ryan e Rony, faz um cruzamento milimétrico para a cabeça de Lito, que nem teve de saltar para, com um belo cabeceamento, colocar a bola fora do alcance do guarda-redes. Delírio nas hostes crioulas, pois o mais difícil estava feito.
Os bissau-guineenses respondem e, por duas vezes, ficam perto do empate: num primeiro remate a bola rasa o poste esquerdo da baliza de Fock, na segunda tentativa a bola foi à trave. Zezinho, jovem bastante talentoso, foi o autor das duas ofensas. A expectativa aumentava nas bancadas e os adeptos guineenses multiplicavam-se nos incentivos. O jogo entrava num ritmo frenético, com ataques perigosos de parte a parte. Nesta altura, era Ryan a seta apontada à baliza bissau-guineense, passando pelos pés do promissor atleta cabo-verdiano todas as jogadas de ataque.
O 2º golo nasce de um belo movimento da direita para a esquerda. Odair, que nos primeiros minutos dava sinal de algum desnorte tático, compreensível para quem se estreava na seleção, e logo a titular, coloca a bola nos pés do playmaker Babanco, que completa a viragem à esquerda com um passe certeiro para Roni. A partir daí, o médio que joga no Luxemburgo fez a sua magia e, à entrada da grande área, levanta o estádio com um pontapé pleno de colocação. Um golo bastante festejado, para ver e rever na televisão.
A partir daqui esperava-se uma gestão tranquila dos Tubarões Azuis, mas os "Djurtus" mostraram bastante garra e apertaram o cerco. Sobrecarregavam Stopira com ataques pela ala direita, e nem a ajuda de Roni e Nando estancava a produtividade daquela flanco guineense. E foi pela direita que a Guiné-Bissau marcou: Almani Moreira aparece solto e cruza para a pequena área; no amontoado de jogadores, acabou por ser Fernando Varela, o herói do jogo com o Mali, a desviar a bola para a baliza de Fock.
Até ao intervalo destaque para boas incursões de Odair Fortes, Ryan e o magnífico jogo de Rony, quer a defender, quer a atacar. Babanco passeava a sua classe perante os médios guineenses, que só o travavam recorrendo à falta. Lito fazia todos duvidarem dos seus 35 anos.
Para o 2º período, Cabo Verde veio com a lição bem estudada, de controlar a partida e evitar sobressaltos, procurando sempre o 3º golo. Babanco era o homem em foco, e assim foi até uma entrada despropositada ter atirado o jogador do Arouca para fora da partida. Lúcio foi obrigado a colocar Dário em campo. Rony ocupou a vaga de Babanco, Dário colocou-se na meia-direita. E foram nesses minutos que se registaram os maiores calafrios, e os adeptos temeram o empate. Dário, talvez acusando a falta de competição (esta época, graças à desorganização de Santiago Sul, ainda só se realizou a Supertaça), entrou bastante mal no jogo, não produzindo ofensivamente e chegando a comprometer defensivamente, tendo valido uma grande exibição de Gegê nas suas costas. Foi, aliás, num lance infantil em que Dário joga a bola com as mãos, que a Guiné-Bissau teve a sua grande oportunidade através de um livre, felizmente desperdiçado.
Héldon e Dady entravam para os lugares de Odair e Lito, recuando Ryan para a posição de médio-ofensivo. As ocaisões rareavam, mas Cabo Verde mostrava segurança. Sidnei entrou para lugar de Ryan, dando mais consistência ao meio-campo. Héldon não conseguia levar a melhor sobre os defesas guineenses no confronto físico, e as bolas nunca chegavam em condições a Dady. Notava-se que, na ausência de Babanco, o meio-campo não tinha um verdadeiro criador de jogo.
Até ao final, só de bola parada houve emoção. O goleador Dady apontou de forma quase perfeita um livre-direto, tendo valido uma magnífica defesa do guardião guineense. Por seu turno, só por intermédio de livres inconsequentes é que a bola entrava na área de Fock. Stopira tinha acertado a marcação e raramente foi batido no 2º tempo.
João Vicente estreou-se, tendo entrado para o lugar de Stopira a 10 minutos do fim. O lateral do Moreirense não teve tarefa fácil, pois teve de levar com mais uma avalanche de ataques bissau-guineenses pela ala direita do seu ataque, tendo valido as dobras dos colegas. Josimar Lima também pôde estrear-se, tendo entrado aos 90 minutos para o lugar de Rony, o homem do jogo.
Apreciações individuais
Fock - 6, revelou alguma insegurança nos cruzamentos para a área durante toda a partida, mas correspondeu bem aos raros remates que foram à baliza. Passou parte da 2ª parte a coxear, espera-se que não seja grave.
Gegê - 7, tímido na 1ª parte, respirava confiança na 2ª. Não teve grandes problemas a nível defensivo, e ainda soube apoiar o ataque.
Varela - 6, os avançados guineenses deram trabalho na 1ª parte, mas na 2ª nem a puderam "cheirar". Muito seguro, só foi infeliz no lance do auto-golo.
Nando - 6, um líder dentro do campo, não foi tão seguro quanto o habitual, tendo sido amarelado bem cedo, revelador das dificuldades na marcação.
Stopira - 7, permeável defensivamente na 1ª parte, fez o cruzamento para o primeiro golo e revelou muito mais segurança defensiva na segunda parte.
Toni Varela - 8, um bom trinco geralmente passa despercebido, e só se deu por Toni Varela devido às inúmeras recuperações de bola no meio-campo. Imperial.
Odair Fortes - 6, parecia um peixe fora de água no primeiro quarto de hora da partida, mas adaptou-se e mostrou excelentes pormenores técnicos. Faltou um pouco mais de agressividade e maior compensação defensiva. Peça a ter em conta no futuro da nossa seleção.
Babanco - 7, sofreu uma entrava violenta quando já tinha colocado a partida no bolso. Só é difícil perceber como é que um médio de tanta qualidade só chega à Europa aos 25 anos... A lesão sofrida não deverá ser grave.
Lito - 7, é o capitão, e quando bailava perante os defesas guineenses, via-se classe e não os 35 anos de idade. Marcou o primeiro golo, mas depois acusou algum desgaste.
Ryan - 7, foi um trabalhador incansável e é impossível não gostar da sua postura em campo, mas faltou frieza no último toque. Nada que não se ganhe com a experiência.
Dário - 4, terá acusado a falta de competição, sem dúvida a peça de menor rendimento.
Héldon - 5, muita vontade, alguns bons pormenores, mas teve problemas com o maior poder físico dos bissau-guineenses.
Dady - 5, teve o seu momento num livre-direto que quase dava golo, mas poucas foram as bolas que chegavam jogáveis lá à frente.
Sidnei - 4, pouco tempo em campo, conseguiu segurar as pontas no meio-campo.
João Vicente - 4, ainda entrou a tempo de passar por alguns calafrios, valeu pela estreia.
Josimar Lima - só atuou 5 minutos, valeu pela estreia do jovem de São Nicolau.
RONY - MVP (9) - grande exibição do médio do CS Fola, seja a interior direito, a médio direito, a médio defensivo, a médio-ofensivo, sempre presente nas compensações defensivas, sem esquecer um golo magnífico.
3 comentários:
Parabens a nossa seleccao. Mais uma vez um trabalho de qualidade Eder. Forca CV.
Zito
algo de estranho passa, mi tava ta spera stadio muito mais cheio que quel la .... pessoal de CV ca aderi nada ou quase nada comparado ma jogo de lusofonia q foi na amadora contra portugal ou angola...
algo a rever, comunicaçao e marketing de federaçao tem reve ses forma de comunica ma adeptos ...
jandir soares
Os jornalista (eles sabem quem são) deviam seguir o exemplo do Eder Semedo.
O jovem Eder foi ao campo e fez uma analise com detalhes.
Ele tem futuro como comentador... Melhor que ele só o Luís Freitas Lobo
Bruno da Moura
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